As estatísticas podem parecer sombrias, mas tenho uma grande esperança de que nós, como pessoas de fé, podemos restaurar parte da energia vital que foi retirada da imagem da paternidade, refletindo sobre a paternidade à luz de nossa fé. Nas Escrituras, a paternidade – e a maternidade – são dignas de tremenda veneração. Se pensarmos nos Dez Mandamentos, os três primeiros tratam de honrar a Deus, honrar seu santo nome e honrar seu sábado. Nos sete Mandamentos seguintes, que tratam das relações humanas, o primeiro deles nos diz para honrar nosso pai e mãe, “para que tudo te corra bem” (Dt 5:16). A conexão entre pais e filhos forma a base de todas as relações humanas, assim como as famílias são as unidades básicas da sociedade.
A Radicalidade do Ensino de Jesus
Quando se trata de paternidade, Jesus vai ainda mais longe do que os Dez Mandamentos. Ele afirma que os pais humanos não merecem apenas nosso amor, admiração e respeito, mas ele sustenta que a paternidade está no cerne de nossa existência e de quem somos. Ele revela a paternidade de Deus, chamando-o de Pai e nos dizendo para fazer o mesmo. Os cristãos podem facilmente esquecer o quão radical é esse ensinamento.
Isso é enfatizado por uma história de um conhecido evangelista católico sobre uma conversa amigável que teve com um estudioso muçulmano antes de um debate formal. Durante a conversa, o católico continuou se referindo a Deus como Pai, e eventualmente o muçulmano disse: “Você poderia parar de dizer isso, por favor?” Quando questionado sobre o motivo, o muçulmano explicou: “Pare de chamar Deus de pai; eu considero isso blasfêmia.” Mesmo na tradição judaica na época de Jesus, Deus não era comumente abordado como pai.
Portanto, quando Jesus ensinou seus discípulos a orar, “Pai nosso”, foi algo novo, especialmente porque o título que Jesus usou – “Abba” – conota um relacionamento pessoal e caloroso, como nosso “Papai”. Essa intimidade com Deus Abba nos define como cristãos.
A Paternidade de Deus e a Paternidade Humana
Ainda mais radical é a conexão que São Paulo faz entre a paternidade de Deus e a paternidade humana. Escrevendo aos Efésios, ele diz: “Eu oro, ajoelhado diante do Pai, do qual toda paternidade, nos céus e na terra, toma o seu nome” (Ef 3:14-15). Não podemos compreender nossa própria paternidade humana a menos que a fundamentemos primeiro na paternidade de Deus.
Como Espelhar a Paternidade de Deus em Nossa Vida
Primeiramente, podemos dizer que Deus ama gerar vida. Podemos observar isso especialmente em um belo dia, quando vamos às montanhas ou florestas e vemos a vida exuberante ao nosso redor. Mas também vemos isso na humanidade e na bela diversidade de filhos que Ele criou, destinados a glorificá-Lo e amar uns aos outros.
Mas há algo ainda maior do que gerar vida: é gerar geradores de vida. Podemos observar isso em nossos relacionamentos humanos. Existe um vínculo especial que conecta avós e netos. Há um orgulho especial em um homem quando seu filho ou filha gera uma vida; há algo notável nisso. Por quê? Porque ele não apenas gerou seu próprio filho ou filha, ele gerou um gerador. Algo belo acontece no coração de um homem quando ele se torna avô. E acredito que isso ocorre porque ele percebeu que gerou um pai.
Conclusão
Isso é o que Deus fez: Ele gerou pais. Ele gerou criaturas humanas que foram elevadas a carregar Seu próprio nome como pais. Portanto, vemos que um padrão em cascata de paternidade emana da paternidade de Deus. Podemos até ver isso, até certo ponto, nas outras partes da criação. Há um sentido em que podemos dizer que os anjos têm uma espécie de paternidade análoga, na medida em que oram por nós, nos ajudam e nos encorajam. Há um sentido em que eles transmitem a vida espiritual, embora esses seres puramente espirituais não possam se reproduzir fisicamente. No outro extremo do espectro, podemos dizer que os animais têm uma espécie de paternidade. Eles se reproduzem fisicamente, mas não podem gerar uma pessoa.
No meio, entre os reinos animal e celestial, encontramos seres humanos, cuja paternidade é exercida da forma mais elevada de todas. Um ser humano gera tanto no nível físico quanto no espiritual, um corpo e uma alma imortal que compõem uma pessoa humana destinada a viver para sempre. Claro, a alma imortal deve ser criada diretamente por Deus, então a paternidade humana está fundamentada na paternidade de Deus.
Nossa jornada como pais é, portanto, uma oportunidade de refletir e espelhar a maravilhosa paternidade de Deus em nossas vidas. Quando amamos, guiamos e nutrimos nossos filhos, estamos participando da obra de Deus como geradores de geradores de vida. Que possamos lembrar disso e abraçar nossa vocação com alegria e gratidão, sabendo que, como pais, somos uma parte fundamental do plano de Deus para a humanidade.
Fonte: The Gift of Fatherhood: What Every Man Should Know, by Father Carter H. Griffin. Knights of Colombus
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